terça-feira, 28 de agosto de 2018

Andarilho


Caminho dia a dia, sem rumo
Assim sigo só, me aprumo
Tem dó de mim?
Homem que sou, espreitando o fim
Andando descalço, sem calço
Minha estrada é livre, sem laço
Por que parti? Nem lembro
Só lembro que dói, então tremo.
Caminho, sem rumo.
A fome acompanha, mas me arrumo.
O frio estrala, mas dou jeito
Beijo as estrelas à noite e deito.
Durmo na toca, na ponte
Parti? Nem lembro de onde.
Dei adeus ao meu tormento
Sigo então assim, sem firmamento.
Minha chegada é a estrada
O próximo trevo, é minha morada
Meu fim é só caminhar.

Manzi, J.G.

   Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 


sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Sina

É um choro abafado, quase mudo.
Um olhar perdido, quase cego.
Um corpo cansado, quase imóvel.
Um coração fechado, quase pedra.

Uma mente vazia, quase nada,
Uma alma sem fé, quase pena,
Um sentimento frio, quase raiva,
Uma vida sem vida, quase morte.

Uma pessoa sem nome, quase um bicho,
Que come de tudo, quase lixo,
Que mora em favelas, quase um lar,
Que vivem em bandos, quase famílias.

Que trabalham no crime, quase organizados,
Que aprendem com a vida, quase escola,
Que vivem da miséria, quase profissão,
Que vestem trapos, quase roupas.

Que usam drogas, quase leite,
Que não tem acesso, quase um beco,
Que nascem pobres, quase castigo,
E que não tem esperança, quase sina.


Dy´Paula




   Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Sem sonhos

Que será de ti poesia?
Que será de teus sonhos?
Porque poesia, falastes tanto?
Para onde irás tu sem tua pena?

Que pena, poesia, eu tenho de ti!
És tão bela, tão cheia de significados,
Mas tão frágil, nem parece sólido.
Parece nada.

Há poesia!!! Cansaste-me.
Cansaste-me tanto que mal posso ouvir-te.
Nada mais me diz.
E quando me diz, nada entendo.

Seja mais clara,
Pois enquanto turva não hei de beber-te.
Seja mais lúcida,
Pois enquanto insana não poderei crer-te.

Seja poesia, como o poema,
Este sim sabe rimar.
Com teus versos, tuas estrofes,
É capaz até de me encantar.

Dy´Paula

  
   Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Sem Nome

E a isso, que nome se dá?
Essa vontade de sair por aí sem nexo.
Sem direção, nem controle, sem nada.
Que nome se dá à consciência da loucura?
Que à loucura consciente.
E a isso, ao que se compara?
Essa voz latente por dentro que,
Sem encontrar orifícios que a reconheça,
Não sai.
E vai se transformando em um câncer
Da essência, que em sua metástase
Contamina a alma
E invalida meu ser.
E disso, o que se dizer?
Essa rebeldia infante,
Que de nada mais gosta, a tudo se repele,
Que grita e se esperneia
Para chamar minha atenção.
Nada. Não digo nada de nada,
Nem nomeio esse absurdo
Se que copara a mim
E vivo assim,
Sem nada a dizer.

Dy´Paula




     Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Sem nexo

Hoje me peguei de surpresa
Fazendo aquilo que jurei não fazer,
Sentindo aquilo que jurei não querer.

Hoje, sem saber onde estavas,
Senti-me perdido,
Sem saber o que você fazia,
Senti-me falido.

E com esta coisa que me
Invade as entranhas,
Quisera fosse bálsamo,
Para ao menos conservar esse corpo defunto.

Mas era esse sentimento mal-vindo,
Que antes faria reviver a qualquer,
Mas a mim me enterra
De corpo e alma.

Hoje percebi que ainda pode me suceder coisas
Embora não queira,
E que a mente, por mais vigilante que esteja, ou seja,
Também vacila e, contudo é frágil.

Hoje dormirei e não quero te ver tocar.
Pois se toca me toca e me faz relembrar,
Por mais que não queira,
O que sinto é amor.


Dy´Paula



     Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 



sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Sem fim

Quando eu mais precisava
Você não veio, veio o vazio.
Tentei tantas vezes e você não veio.
Veio o vazio.
Estava tão só, tão frágil,
Que até mesmo o vazio
Era capaz de me conquistar.
E nesse vazio, de coisas vazias,
Esvazio-me e encho-me de nada,
Que preenche o vazio
Que esvazia minha alma.
Quem sou eu se não um
Vazio de nada
Que se esvazia por nada
E só, esvai.
Estou chegando tão perto do fim
Que até posso sentir o seu cheiro.
E perco-me em meio aos sentidos
Que sem sentido me guia,
E ao seguir o sentido
O caminho se perde e se esvai,
E me vou, sem sentido,
A caminho do fim.
Dy´Paula


     Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 

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