terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A arte de sofrer


A dor é presente.
Mas sua presença é finita.
Sua finitude depende de quem a sente.
Sofrimento existe, mas não é eterno.

Há a imposição  da felicidade.
A felicidade se tornou uma tortura.
Há a obrigação de ser feliz.
Imposta nas fotos, nas fugas e nas aparências.

A que ponto chegou a ditadura da felicidade?
Ao ponto de ser proibido sentir dor ou sofrimento?
Porém ambos existem, querendo ou não.
Mas se tornou regra sua ocultação.

A felicidade farsante é a nova imposição.
Assim como a negligência ao sofrimento e a dor.
Nascendo o obstáculo de curar as feridas.
É mais justo ter suas feridas abertas?

A dor e o sofrimento existem.
Em tempos de fotos e registros onde todos são felizes.
Sofrer se tornou a maior das fraquezas.
Não seria mais justo o tornar cicatrizes?

A dor e o sofrimento são finitos,
Mas encobri-los em prazeres momentâneos,
Levarão a finitude de sua vida.
A dor o consumirá até seus últimos caminhos.

Julgar e punir quem sofre se tornou regra.
Uma imbecilidade disfarçada de hipocrisia e ignorância.
Pois se é humano, então sofrerá, algum dia sofrerá.
O grande dilema é o que fazer com a dor.

Esconde-la em vicios, prazeres e hipocrisia.
Tornaram-se o caminho comum.
Assim a finitude da dor e sofrimento se esvai.
Dando lugar a uma eterna ferida.

Vergonha não é sofrer ou sentir dor.
Mas sim deixar que suas feridas não se curem.
Não deixar com que elas se tornem cicatrizes
Vergonha é optar pela felicidade farsante.

Manzi, J.G.

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