quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Além do horizonte, o amor

Quando a poeira baixar
E conseguir enxergar melhor o horizonte,
Verá com alegria
O quanto ainda tem a caminhar.

Quando retomar os passos
E desbravar novos caminhos,
Perceberá com euforia
Que apesar dos pesares, não estará sozinha.

Quando a nostalgia chegar,
E sem pedir licença, invadir seus pensamentos,
Lembre-se que ainda haverá horizontes e novos caminhos,
E sempre é tempo para recomeçar.

Quando sentir-se só
E as emoções lhe fizerem companhia.
Saiba que ainda há o amor,
E o amor, por si só, bastaria.

Dy'Paula

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

(Homenagem ao poeta de "Cisnes" Júlio Salusse) (1872/1948).

E na dança de um baile no Cassino
Pôde cruzar seus olhos com o divino
O anjo de cor dourada de castelã
Olhos negros, cabelos lindos e corpo louça

E em mais uma noite foi agraciado
O anjo deu graças em mais um baile estimado
Com suas vestes de rendas
Vieste de onde e de quem descendas

Pois tal esplendor a este mundo é revogado
Doce anjo, traz um sonho a tanto negado
Teus olhos atenuam a alma
A leve brisa que acaricia as faces e traz calma

A chuva que há muitos dias regam as flores
Enclausuram os tempos indolores
Então no tédio o anjo dourado vem em sonho
A alegria toma mais uma vez o coração tristonho

Então diante da chuva que não sessa
Uma afetuosa lembrança o peito atravessa
Delicado fruto que toma o peito diante do rio
Minutar a confissão é caçar o calor para sobrepujar o frio

Eis então que o soneto traz à lembrança
Da forma à amada e acarreta esperança
E da formosura das letras nasce os cisnes
Que dão cor aos dias a tantos tisnes

O poeta tem seu peito renovado com alegria
Um novo baile glorifica o dia
Pois o poeta irá celebrar seu anjo de olhos escuros
Pronto para fincar seu pé em porto seguro

Dança, conversa e ama, mas o julgamento limita o poeta
As palavras não dignificam a luz do corpo que dá forma a silhueta
A formosura da amada tem tamanha gloria
Que o amante não se vê além da escória

O doce anjo para o poeta era imortal
Que melhor forma o amor se torna atemporal?
Que não pelas palavras grafada e imortalizada
Pois para sempre por elas Laura será lembrada 

Manzi, J.G.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

À primeira vista

Desde o momento que te vi
Senti algo estranho no ar.
Sua energia invadiu meus desejos,
Não pude mais me controlar.

Temia ao cruzar meus olhos com os seus,
Sentia calafrios ao me tocar,
Suas palavras viravam canções,
Queria que o tempo pudesse parar.

Sentia-me tão indefeso,
Tão sem reação.
Sentia-me tão contente,
Acho até que senti a paixão.

Deu impressão que já te conhecia,
Acho que estava a te esperar.
Ao te ver acabou-se a angústia,
Que voltou a nos separar.

Dy´Paula

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Cor Preta

E pela ganância do homem europeu
Foi-te arrancada do berço teu
Manchaste o azul do atlântico com teu sangue e carne
E nesta terra de abundância e atrocidade atracaste
Para servir aos homens brancos
Os nativos desta terra há tempos derramaram prantos

Por séculos o chicote estrala
Do pelourinho ao estupro na senzala
Dando a vida, o trabalho, o espírito
Com normas, leis, brancos prescritos

Construístes essa terra pela sua agonia
Mas com bravura também resistia
Mortos enterrados onde nem deus sabe
Pois há muito desejou que a tortura acabe

Mesmo com a áurea firmada
Que mais por interesses elitistas libertara
Ainda pagam o preço no tempo presente
Com a hipocrisia do homem que a injustiça consente

Quanta glória há no que herdamos de tua terra
Desde seu candomblé até a arte da capoeira
É de ser ter orgulho em ter teu sangue em minhas veias
Mas não reparará o sangue derramado pelo tempo e suas areias

Ainda tens que aguentar as injúrias de um povo branco
Povo branco e mesquinho enraizados em tradições que também herdamos
Ainda sofre, pois é a tua cor que tem as prisões
E os mesquinhos brancos ainda vendem suas ilusões

Ainda é da cor preta os corpos dos jovens assassinados
E o embranquecimento levam os homens alienados
Também a falta desta cor preta nas salas acadêmicas
A entrada nas salas elitizadas tem tom de injustiça endêmicas

Ser preto é lutar todos os dias
Para desafiar a falácia de democracia
É resistir todos os dias com orgulho da cor preta 


Manzi, J.G.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O tempo

O tempo é um senhor difícil de tolerar
É tão cruel e  tão necessário
Um remédio amargo, mas que pode curar
Diz o velho ditado “o tempo cura tudo”

Tempo traz tantas assombrosas lembranças
Mas lembranças doces também vem e vão
Olhar o tempo é olhar a si mesmo
Ver as mudanças em seu corpo e espírito

O tempo filtra o que será esquecido e lembrado
Lidar com o tempo e suas amarras
É lutar para negar aquilo que se ama
Ou afastar o que se quer esquecer

Ah o tempo!
Olhar para seu abismo sem fim
Admirar angustiado seu céu com tantas oportunidades
Pode ser enlouquecedor e libertador

O tempo que transforma e conserva
Traz liberdade e esperança
E ao mesmo tempo as rédeas de tristezas
É difícil apreciar o tempo e o tolerar


O tempo é o mar sem fim que nos assusta e nos desprende

Manzi, J.G.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

A liberdade da arte

A arte é como a água para o mundo
Tão essencial, fonte de vida
Torna o solo desnutrido fecundo 
Porém a arte não pode ser insípida 

O homem quer lhe moldar com sua corrente
Mas a arte nasceu para ser livre
A liberdade para a arte precisa ser latente
A arte sem liberdade não sobrevive

A arte pulsa no sangue dos homens
Traz ao mundo um novo gosto
Sabor que transcende as ordens 
A alma além do mero rosto

A arte diz mais a respeito ao seu artífice 
Expõe suas impressões, experiências e sentimentos 
Não podem a converter em idiotice 
Sua intimidade exposta a julgamentos 

A intimidade exposta revela a essência dos corações 
Com quais olhos se propõe a admirar a arte?
Um coração vazio de amor e repleto de retaliações 
Algo tão íntimo é merecedor de ódio por toda parte?

Se sua essência está repleta de ódio
Com ódio a arte se revelará 
Não haverá o que apreciar até seu exódio 
A experiência não te transformará

A arte e a liberdade caminham juntas
A liberdade de apreciar a arte não encerra as perguntas

Manzi, J.G.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A Chance

Se eu pudesse escrever sobre esse momento, 
O que será que eu iria dizer? 
Se eu pudesse moldar esse momento, 
O que será que eu iria fazer? 

Se eu pudesse enxergar contra a luz, 
O que será que eu iria ver? 
Se eu pudesse fazer o que eu quero, 
O que será que eu iria querer? 

Dê-me uma tela, 
Dê-me um pincel, 
Deixe-me só, 
Eu quero pensar. 

Dê-me uma pena, 
Dê-me um papel, 
Não falem nada, 
Eu quero viver. 

Tento me concentrar, 
Não consigo. 
Tento me libertar, 
Mas te persigo. 

Tento me encontrar, 
Não existo. 
Tentei te falar, 
Não me deu ouvidos. 

Quando me olho no espelho o que vejo? 
Só tristeza. 
Quando saio na rua, o que quero? 
Não percebo. 

Quando sorrio, gratuitamente, o que sinto? 
Desprezo. 
Quando choro, em silêncio, 
Padeço. 

Meu corpo, uma carcaça. 
Minha mente, vazia. 
Minha alma, cansada. 
Minha vida... 
Dê-me uma pena,
Eu quero escrever. 
Dê-me uma chance, 
Eu quero viver. 

Dy´Paula

Encontre no Sarau Aberto