terça-feira, 19 de maio de 2020

Trajetória

Quando olho pra trás, vejo tanta coisa que podia ter feito diferente.
Mas quando olho pra frente, esqueço do passado e da memória fugaz.

Será que teria conhecido as pessoas que conheço hoje?
Será que eu veria o mundo da forma como vejo agora?
Será que eu seria eu?

Não mudaria nenhuma decisão tomada se o resultado fosse um futuro sem mim.
As feridas do passado não doem mais, agora são cicatrizes, parte de mim, da minha história.

E é isso o que nos torna singular.
Nossa trajetória, nossa (des)construção.
O que fui outrora já não sou mais
E o que sou agora me orgulha demais.

Ana Carolina Andrade

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Aguar as plantas



Quero escrever um poema
E já não sei como fazê-lo.
Tem 18 anos que aquela estrela
Brilhou no céu de novembro.


Pra um verso escrever
Esforço enorme, enxaqueca.
Pior é no noticiário ver
A face do Capeta.


Cigarros? Vê 6 maços.
Cerveja? Põe na mesa.
Maconha? Me enrola um charro.


Na varanda, a aguar as nossas plantas
A companheira de treze vidas
Me sorri triste: "Mas é um caralho, né meu filho?"


Felipe Martins

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Sonho meu


Me pego sonhando
Um sonho quase tangível,
Um sonho tão perceptível
De tantas maneiras inconfundível
O mundo se silencia
E posso sentir a sintonia Afinidades de sabores Cores, e todos odores
Campos verdes e céu azul
Brisa leve e dançante
Cheiro de terra molhada
Sensações que me deixam extasiada
Ouço vozes radiantes,
Crianças e adultos empolgantes Brincam, dançam, dão risadas Estou maravilhada, estou em casa
Percebo então ali o meu lugar Eu, você, o céu e nosso lar Desperto com a certeza Onde mais eu poderia estar?

Ana Motta

domingo, 3 de maio de 2020

solidão e isolamento

E nesses dias de solidão e isolamento
A vida que passava tão rápido
Hoje segue em tormento
Dizem que o tempo cura tudo
Mas o que faz o tempo nesse momento?
Tentar se distrair não adianta mais
Todos os dias parecem iguais
O mesmo filme em todos canais
Sigo tentando viver o mesmo dia
Várias e várias vezes
Tudo se repete, sem fundamento
Volto a me perguntar
O que faz o tempo nesse momento?

Ana Motta

O amor


Se posso te dar algo para pensar é sobre o amor, doce, medonho, gostoso, fantástico e horroroso amor.
Nos constrói e destrói, nos anima e nos derruba.
Quem ama se torna essa contradição, essa loucura ambulante.
Prazer, louco nato.

Ana Carolina

minhas linhas.

essa é pra todas as poesias
que eu não consegui terminar
porque carregavam meu nome,
meus olhos,

minhas linhas.
pra todas aquelas
que são meu auto retrato.
eu na forma de oceano,
eu como o fogo,
eu infinitas vezes despida,
molhada,
gelada,
fervendo.
pra todas as vezes que eu me pintei
pra mim e depois me desbotei.
pra todas as vezes que eu subjuguei
meu próprio sorriso,
o meu próprio amor,
as minhas próprias curvas,
pra todas as minhas esquinas que eu ignorei.
essa é pras minhas tintas,
pras minhas canetas,
pros meus papéis,
meus pincéis,
pra todas as artes que me descrevem,
todas as que eu fiz enquanto minha musa era meu reflexo no espelho.
pra todas as músicas que eu cantei pra mim mesma,
todas as lágrimas que eu enxuguei,
todos os choros que eu engoli,
pra todos os rios que eu derramei em cima da minha roupa de cama por me torturar me dizendo que eu nunca fui boa o suficiente.
essa vai pra mim
e pra absolutamente tudo que eu sou,
pra tudo o que eu faço.
pra tudo o que sei,
pra todas as vezes que eu me mantive de pé e discursei sobre todos os aprendizados que eu obtive enquanto escutava,
porque eu sabia que eu não conhecia muito,
eu ainda sei que eu conheço muitíssimo pouco.
essa é pra mim.
pra todas as minhas 400 personalidades.
essa poesia é a introdução e a conclusão.
eu mesma sou meu começo e meu fim.

essa é pra todas as poesias sobre mim que eu não terminei, porque eu nunca soube como me descrever.Mas
eu ainda não sei.

Izabela Sales

Dor fragmentada


Tantas coisas à pensar tantas coisas à fazer tantas coisas à falar tantas coisas para entender
Vivo em quarentena
em quarentena a todo tempo
a doença se espalhando
se espalhando feito vento e o pensamento?
Ahh mais que tormento!

Não sei o que dizer,
só preciso entender!
Os sentimentos, o emocional, o isolamento social;
Tudo pára, tudo muda, nada é mais igual; turbilhões de pensamentos,
isso tudo é surreal? Não! Na verdade, é bem real!

Em minha solidão pensamentos vêm e vão
Abraços, aperto de mão, pera aí, não posso não!
E aí, logo vem a sensação;
 a dor deste momento fragmenta o coração!

Joyce Cristina 

Conscientemente Inconsciente



Não são as palavras que contam uma história.
Sim a ausência delas.
O sentir, diário e mudo.
Não se vê, não se ouve, não se fala.
Ou melhor...
Se vê, ao fechar os olhos, ou ao abri-los diante do espelho.
Se ouve, em cada melodia, letra, frase ou poesia que fale de amor.
Fala-se, timidamente, aqui e ali, a lamentar-se com os companheiros.
Ah, que história!
Os dedos tremem buscando palavras pra contar. Mas não dão conta, afinal, não são as palavras que contam uma história. Sim a ausência delas!
A norma, a moral,  o "ideal"
O medo, as grades, as alianças
Sufocam as palavras, os corpos...
Mas não sabem que não são as palavras que contam uma história, sim a ausência delas?
Quanto mais silencio, mais pensamento, mais sonhos, mais sentimento.
Mais história!
Um universo lúdico, sensorial.
Sentido único: dentro.
Templo dos sonhos e das lembranças,
Território das saudades, vozes, cheiros e sons...
Onde a liberdade da mente sobrepõe aos corpos, onde flashes não alcançam nossa verdadeira face.
Onde sempre nos teremos e amantes seremos.

Ana Motta

Nós


O meu corpo não é seu.
Sempre foi tão fácil dizer e entender.
Epifania súbita ao pensar
Que seu corpo também não é meu.

Meu amor é todo seu
E se quer consigo imaginar
O que seria de mim
Sem uma vida ao lado teu.

Acompanhar tua trajetória
Colher frutos semeados contigo.
Não há dúvidas, meu amor
A vida é melhor ao seu lado,
Meu melhor amigo.

A todos aqueles que buscam
Ao amor encontrar
Não há mistérios ou segredos
O caminho é ouvir e falar.

 Ana Carolina de Andrade Martins

O que tenho a dizer



O que dizer quando não se há nada a dizer.
Nada do que eu diga terá sentido para você.
O que fazer quando não se há nada a fazer.
Nada do que eu faça mudará o que há entre mim e você.

Façamos nada,
Para que não tenhamos nada a dizer.
Pois se dissermos o que fazer
Faremos aquilo que não queremos fazer.

Vamos desvendar o mistério da vida
Par que a vida se revele sem mistério.
Vamos viver como se houvesse prazer
E prazeroso será lhe conhecer.

Não me diga o que não quer me dizer.
Melhor seria simplesmente viver.
Sem mistério, sem ter o que fazer.
Com prazer entre mim e você.

Conheci tuas entranhas,
Ainda assim me estranhas.
Conheci tuas virtudes,
Ainda assim me iludes.

Eu sem você sou nada,
E nem tenho nada a dizer.
Você sem mim me mata,
Só quero contigo viver.

Dy’Paula

Isolamento


Só, com meu pensamento,
Sobrevivendo a este tormento,
Esperando que seja só um momento,
Vivo o meu isolamento.

Já não sinto fome nem dor.
Não mais diferencio o sabor.
Não há cheiro nem odor.
Da vida sou espectador.

Ai de nós, meros mortais.
Os mais frágeis dos animais.
Decerto já não nos reconhecemos mais.
Jamais seremos normais.

Vamos sem saber para onde.
Vamos sem sair do lugar.
Impera a virtualidade,
E como gado que sou tenho que me virtualizar.

Canto ela na janela.
Vivo a live ao vivo no meu sofá.
Na janela bato panela.
E a panela cada vez mais vazia está.

Esperando passar este tormento,
Só neste momento,
Vivo com um só pensamento,
Sobreviver ao meu isolamento.

Dy’Paula

Encontre no Sarau Aberto