quarta-feira, 28 de março de 2018

Chuva

Chuva que a tristeza tece
Tristeza que pela janela desce
Desce tão delicada e formosa 
Formosura de solidão morosa

Chuva que atingi as calhas 
Transborda o suave som nas falhas 
Nas falhas das folhas de amor
Amor que derrama gotas de dor

Chuva que me toma de saudades 
Saudades que já não é novidade
Mas escorre lenta pela vidraça 
Vidros que em tormentas se estilhaça

Estilhaços que se rompem ao vento 
Vento que leva meu lamento 
Lamento trajado de romance 
Romântico que esgota seu nuance 

Chuva que rasga a vastidão do céu 
Céu que veste as gotas como um véu 
Véu cinza que te ofusca 
Ofuscado me perco em tua busca

Chuva que traz a brisa fria
Com frieza o tempo torna a vida sombria 
A chuva que parece tecer boas novas
Boas novas que se encaminham às covas

Chuva que cai de tantos modos 
Mas a mais antiga é a dos meus olhos
Meus olhos que despejam a chuva 
Chuva que me espanta feito saúva 

No medo da chuva me faço prisioneiro
Prisioneiro, não das gotas me molharem inteiro 
Mas preso no meu desejo de esperança infindável 
Mas a chuva que cai dos meus olhos, parece tão interminável 

Manzi. J.G.



segunda-feira, 26 de março de 2018

Um dia destes

Qualquer dia destes, um dia qualquer, 
Vou-me por aí, feito um louco, 
Que já não sabe o que fazer com o tempo, 
Nem mesmo consigo mesmo, 
E tentarei buscar minha paz. 

Qualquer dia destes, como um qualquer, 
Caminharei sem nexo, 
Na direção oposta aos sentidos racionais que me restam, 
E em minha loucura, vasculhando os destroços, 
Hei de encontrar minha paz. 

Qualquer dia destes, qualquer um, 
Perdido, encontrarei-me por aí, 
A vagar loucamente 
Por dentro de meus caminhos, 
Buscando o câncer em meio aos 
Neurônios malignos que não me deixam em paz. 

Qualquer dia destes, destes qualquer, 
Aproveito a carona nesta viagem ao interior 
Para visitar o músculo que me empurra o sangue 
E em um ato desesperado 
Sufocarei com minhas próprias mãos o maldito, 
Para ver se me sinto em paz. 

Dy´Paula

Verdadeiro herói

Talvez não tenha tempo, 
Nem talento, 
Nem argumento 
Para poder te convencer. 

Talvez não tenha vida, 
Sem saída, 
Nem partida 
Para poder me esconder. 

Não queria ter identidade, 
Nem coragem, 
Nem responsabilidade 
Só para não encarar você. 

Queria ser verdadeiro, 
Ordeiro, 
Guerreiro, 
Ser um herói como você. 

Queria poder lhe ajudar, 
Abraçar-lhe, lutar, chorar, 
Queria poder lhe falar 
Esse amor que tenho a te dar. 

Queria ser seu vício, 
Seu filho, seu pai, 
Queria ser um herói como você. 
Eu só queria ter você. 



Dy’Paula 

Você e Eu

Você não me assustará com este seu silêncio. 
Não ficarei nem incomodado, nem cômodo. 
Será só silêncio. 
E silêncio, com silêncio se paga. 

Você não me consumirá com este seu desprezo. 
Não ficarei sentido, nem ressentido. 
Será só desprezo. 
E desprezo, por desprezo, não prezo. 

Você não mais me convencerá com tuas lágrimas. 
Não ficarei nem triste, nem feliz. 
Serão apenas lágrimas. 
E lágrimas, sem dor, secam. 

Você não mais se verá comigo. 
Não ficarei nem sozinho, nem só. 
Será só comigo. 
E comigo, por si só, me sinto. 

Dy´Paula

Socorro

 Eu não sinto nada, 
Nada que sinto não me diz nada. 
Qualquer coisa serve para nada, 

Não há sentimento que sirva. 
Estou louco para fazer algo, 
Desde que faça para você. 

Eu já tentei de tudo, 
E me consumo por nada poder fazer. 
E consumido eu sigo, 
Sem nada para fazer. 

E consumado está 
O meu sentimento por você. 

Dy´Paula

quarta-feira, 21 de março de 2018

Rosa (Marielle Franco)


Perdi mais uma rosa deste jardim 
Mas não uma rosa delicada e frágil 
Uma rosa preta, firme e gigante  
Perdi uma rosa que dava voz 
Voz a tantas outras flores 

A rosa que não conformada
E dessa inconformidade nascia seu grito
Grito esse que era de todas as rosas 
Que desse rugido combatia o ódio contra elas

A rosa foi calada, na calada da noite 
Sua voz cessou, calada à bala
Arrancada brutalmente desse jardim 
Na esperança do seu eco atingir outras flores 

A morte dessa rosa é também a de tantas outras flores 
Outras flores que se perderam nessa perversidade 
E aquela rosa carregava o último grito de tantas outras 
Gritos daqueles dominados insistindo por justiça 

Perdemos mais uma rosa 
Mas não uma rosa delicada e frágil 
Tombou a voz nesse jardim 
O jardim com flores que traz esperança 

O jardim de esperança que clama mudança 
A esperança que nasce no eco dos gritos 
Gritos das flores arrancadas à bala
Flores pobres, pretas e famintas por justiça 

Manzi, J.G

terça-feira, 13 de março de 2018

Eu, poeta

Quero que sintas meu coração
Sintas a dor e alegria do meu peito
Quero que contemple as cores, 
como eu as contemplo

Desejo que entendas que não sou vazio
Minha alma pulsa por sonhos e desejos
Não tenho o coração gélido e obscuro
Sintas a fome por verdade que eu sinto

Peço que entendas meu pesar
Gostaria de expressar em palavras
Palavras que pudessem te tocar 
Tocar-te como toco a vida

Por isso escrevo nobremente
Como um mero servo da vida
Escrevo o que não sei dizer 
Utilizo a arte de escrever 
Para que vejas que tenho alma 

Não sei se sou poeta de mim
Ou se sou poeta por ti 
Mas desejo que conheças meu coração 
Honestamente, desejo que o conheça 


Manzi, J.G.






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