quarta-feira, 27 de junho de 2018

Te amo

Te amo como o céu ama à estrela
Assim como o navegante ama o mar
Como o sol a lua, não cansa de buscar
Te amo como o garoto que não ganha trela

Te amo como o inicio ama o fim
Do jeito que o mar à praia alcança
Como a dureza ama o marfim 
E a morte pelo sono descansa 

Te amo como o choro ama à dor
Como o vento beija a montanha 
Como o frio regressa ao calor
E como o calafrio penetra a entranha

Te amo como a chegada ama a partida
Como o doce ama o amargo
Como Jasão morto por Argo
De maneira afável e pervertida

Te amo assim em meio a loucura
A loucura que é te amar
Ao ponto de versos declamar
Fitando mais uma noite escura

Manzi, J.G.





     Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 


sexta-feira, 22 de junho de 2018

Quisera


Quisera eu falar das flores
Sem preocupar-me com os canhões,
Mas as flores não matam,
E eu preciso morrer.

Quisera eu a liberdade
Sem sujar-me de sangue.
Mas a liberdade é utopia,
E eu sem esperança não vivo.

Quisera eu sentir-me eu
Sem preocupar-me com ninguém.
Mas o eu é solidão
E eu sozinho sou ninguém.

Quisera a lua e o sol juntos
Para iluminar meu caminho.
Mas meus caminhos, sem luz, me ferem,
E eu sem dor não sei caminhar.

Quisera tanto em nada querer,
Não me preocupo em me preocupar,
Mas tudo que tenho se vai,
E eu sem partida não sei voltar.

Quisera eu, por um só momento,
Deixar transparecer minha essência.
Mas minha essência não fala,
E eu preciso calar-me.

Dy´Paula


     Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 

domingo, 10 de junho de 2018

Prosa


Quando tudo já não faz mais sentido.
Quando o gosto já não tem mais sabor.
Quando o cheiro já não tem mais odor.
Quando o sexo já não tem mais pudor.
Quando o abraço já não tem mais calor.
Quando o beijo já não tem mais frescor.
Quando o corpo já não tem mais vigor.
Quando os atos já não têm mais valor.
Quando os sentimentos já não têm mais amor.
Quando o feto já não tem mais progenitor.
Quando o teatro já não tem mais espectador.
Quando a religião já não tem mais temor.
Quando o trabalho já não tem mais labor.
Quando a poesia já não expressa minha dor.
Prosa;!

Dy'Paula

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Por onde estás?

Por que não me vem a poesia?
Logo agora que mais preciso.
Por que não se junta aos meus medos?
Sempre que quis eu estava aqui.
Por que me abandonou poesia?
Que será de mim sem ti?
Por onde agora vou caminhar?
A solidão é difícil demais.
Escuto essa música tão bela.
Foi por aí que você se meteu?
Nas penas de outro poeta?
Que farei destas tintas sem ti?
Tudo é suportável quando estás ao meu lado,
Mas sem ti poesia, tudo é pardo.


Dy´Paula


     Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Pena


Que pena eu tenho da pena
Que a pena tem que escrever.
Que pena desta pena
Que só a pena sabe entender.

Já me cansei desse tal de destino,
Já me cansei dessa peregrinação,
Já me cansei destes caminhos tortos,
Já me cansei desta solidão.

O que vejo não me fascina,
O que me fascina não vejo.
O que quero não me pertence,
O que me pertence não quero.

Quem sou eu pra seguir assim?
Sem mim mesmo, sem ninguém?
Quem sou eu pra falar de mim?
Já não me reconheço em ninguém.

Que pena tenho desta pena,
É a pena de um ninguém.
Que pena tenho desta pena,
Que sonha ser um alguém.

Dy´Paula

   
     Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 

terça-feira, 5 de junho de 2018

Peace world

Nos jornais vejo manchetes
Mas nunca compreendo o porquê.
Nas opiniões vejo diversidade,
Pessoas a se debater.

Os paparazzis se esbaldam
A cada corpo que cai,
Talvez nem sequer percebam
Que é mais um filho sem pai.

Comandantes armam estratégias,
Planejam ataques fatais,
Retiram das mães, os filhos,
E os transformam em alvos mortais.


A vida se resume a nada,
O que importa é o poder.
Os homens fazem da guerra
A única forma de vencer.

Dizem buscar a paz,
A harmonia geral,
Mas o que eu vejo é tragédia,
É a batalha brutal.

Consideram-se potência
Por comandar a destruição,
Devastam toda uma sociedade
Dizendo ser esta sua missão.


Dy´Paula



        Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Passado de esperança


Hoje vejo meu passado
E me recordo do presente,
Vejo arder em meu peito
Uma chama mais que ardente.

Autocontrole, não tenho,
Não contenho a minha emoção.
Renasce a cada momento
O amor em meu coração.

Talvez não saiba a verdade,
E também nem queira saber,
Pois a razão de minha vida,
Nem eu mesmo sei lhe dizer.

Você passa por mim,
Como passa um vendaval,
Ignora a minha esperança,
Destrói o meu ideal.

Pois saiba que te procuro,
Como uma abelha procura a flor.
E te esperarei a vida inteira,
Não tem limite esse meu amor.


Dy´Paula


        Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 

domingo, 3 de junho de 2018

Partida


Por mais que eu tente,
Nada de minha boca sai.
O silêncio me tortura,
O silêncio me contrai.

Não ouço a minha voz
E ignoro a sua.
Vivo em uma jaula,
Já não tenho quem me possua.

Talvez eu queira gritar,
Mas se eu grito ninguém me escuta.
Talvez eu queira morrer,
Mas se morro ninguém me sepulta.

Podia a vida ser mais fácil.
Podia o difícil ser mais simples.
Podia os seres ser compreensíveis,
Podiam os astros mais sublimes.

O que fala esse bêbado calado?
O que será que ele quer dizer?
Será a vida um sofrimento eterno?
Ou será a vida o momento para viver?

Deixe-me, quero partir.
Não sei qual será meu destino,
Com o vento quero seguir.
Tentarei voltar a ser menino.

Quero a faca, vou me cortar.
Beber meu sangue até me reencher.
Quero a arma, vou suicidar,
Quem sabe assim possa reviver.

A carne é fraca,
Assim como a mente.
A alma uma incógnita,
Assim como a gente.

Mais um passo, mais um dia.
Mais uma noite, mais uma em vão.
Mais um erro, mais um acerto,
Mais um sim, mais um não.
E assim sigo,
Como seguem os aventureiros.
E assim eu fui,
Como se vão os verdadeiros. 





Dy'Paula




        Imagem CC0 1.0 Universal. Dedicado ao Domínio Público. 


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