terça-feira, 17 de novembro de 2020

Turbilhão (Parte IV)

 A noite vem se debruçando na escuridão e eu o aguardo ansiosamente. Aguardo o sono me alcançar como a seca espera a chuva. 

Me sinto cansado e minha mente tem um turbilhão de pensamentos gritando estridentemente ao ponto de me ensurdecer no silencio. 

Sono chega a ser um privilégio tão longínquo que as vezes penso ser impossível alcançar tal feito. Minha dor precisa tanto deste feito. Estou cansado.  

Ao cair das estrelas me vejo apegado a uma amarga esperança de que o sono me abrace e assim meu corpo repouse na escuridão. 

Se for um sono eterno, que seja. Não tenho nenhuma vontade de despertar de um descanso inacabável. 

Só penso em descansar e repousar. Uma boa noite de sono seria uma graça tão desejada que tende a aparecer um milagre.

Aguardo o anjo do sono me agraciar com a dádiva. Enquanto isso me cubro na minha dor que esmaga meu peito e pesa minha cabeça. 

Deus, como estou cansado!

Manzi, J.G.
2018

Turbilhão (Parte III)

Minha solidão já é uma companheira antiga. Posso estar rodeado de gente, mas me sinto tão sozinho. 

O vazio que carrego no peito é tão profundo que às vezes sinto que nunca será preenchido por nada além do beijo da morte. 

A solidão é uma sanguessuga que consome minha vitalidade a cada dia, pois quando sempre se senti só, nada é demasiado importante. Pois todos me abandonaram e se já não o fizeram um dia farão. Estou fadado ao abandono e ao vazio. 

Por que alguém iria me suportar se nem eu mesmo consigo tal façanha? minha felicidade é uma esperança ingrata que me tortura. 

O vazio que a solidão traz só piora este meu estado. Me sinto preso em uma morada na qual não consigo encontrar a saída. 

Mas já não tenho medo da solidão, pois neste deserto o que me resta além de aguardar a morte?

Manzi, J.G
2017

Turbilhão (Parte II)

A cólera que repousa em meu coração me faz esquecer do gosto do amor, da gentileza e empatia para com o mundo. 
Já me esqueci do valor de um colo, um beijo ou carinho. Olho no espelho e vejo uma fúria inquieta. 
A raiva de mim mesmo é maior do que a desesperança que sinto pelos outros a minha volta. Não teria restado nada de bom?

No crepúsculo dos dias é ainda pior ou quando o sol não desperta através das nuvens negras que traz uma chuva fina que parece a tristeza dos céus. 
Sinto-me fadado a um nervosismo sem explicação. Uma irritação que me leva a exaustão mesmo se passar um dia inteiro na cama.
 
Ódio, ódio, ódio quanto sentimento enfurecido que nasce em mim a cada dia como ervas daninhas que consomem todas as minhas virtudes. 
Quero arrancar, bater e machucar, mas não há ninguém a quem pertença tal raiva, além de mim mesmo pelo fracasso de homem que sou. 
Sinto repulsa de mim e daqueles que me amam, pois como podem amar um ser tão repugnante?

Sou indigno de piedade e compaixão. Carrego a fúria, o ódio, a raiva e ansiedade que não vejo suas raízes. 
Possivelmente pertencem a minha essência impura e brotam a cada raiar do dia e ao cair da noite como uma doença que me diz que não irá embora. 

Manzi, J.G, 
2017

Turbilhão (Parte I)

A dor do meu coração não se cala, queima minha mente ao ponto de me fazer gritar. Um vazio de escuridão que minha alma exala. 
As trevas me abraçam e meu corpo arde como ácido que derrete a carne, mas tudo isso está em minha cabeça. Seria eu, um louco?

Qual o fruto da dor e sofrimento que me castiga e consome meus dias e noites, deixando apenas o resto de mim em lamento? 
De onde vem essas trevas que me consome e arranca a carne com tanta força, mas que se assenta profundamente. 

A cabeça dói, o peito aperta e a escuridão sufoca, mas a dor existe? Essas trevas existem? Ou imagino ou sonho? 
Decido sair dessa angústia e ansiedade, preciso me apegar ao real, a dor real, sentir algo de verdade que me puxe de novo para a sanidade, mesmo em um ato insano. 

Então me corto até sangrar por ódio de mim mesmo, por ser fraco. 
Corto-me também para sentir algo real, para que minha mente se volte a dor. 
Então me queimo sem pensar, apago os cigarros em meus braços, pernas e pés deixando cicatrizes, que nunca desaparecerão.
 
Corto-me e queimo para tentar ficar vivo, pois meu ódio e desilusão é tão profundo que um dia ainda dou cabo de minha vida, num só golpe. 
Mas não hoje. Esta noite apenas repousarei na minha dor, nas queimadores e cortes. Hoje me deterei ao meu martírio de sangue que vem de mim mesmo. 

Manzi, J.G. 
2017

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