quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Desafio

Como  me pedis para o amor escrever?  
O que é tão incontável e latente  
Algo íntimo, alentado e potente 

Como posso em letras prever  
O quanto estrondoso, delicado e refinado 
Esse sentimento sem dó em antever 
A dor que me traz em demasia 
E a louca espera de um novo dia 
Para que teu corpo possa percorrer.     

Com que direito tenho eu 
De me dar ao luxo de ilustrar 
Ao em vez de paciente observar  
A peça que o destino deu?  

Como em simples frases 
Posso medir o furor 
Que com fúria exalta a dor 
Que em mil modos oculta as faces 
Desse suntuoso cálice chamado amor?  

Qual modo de traçar em brandas linhas
A lástima alegre em agonia anunciar 
A aflição de que em fascínio aprendi a amar  
Atrever-me em tais linhas assentar paixões minhas?   

Cobra-me a atitude desumana de minutar 
O sentimento que mesmo negado  
Muitos aspirantes e calejados   
Ainda insiste em glória gozar.  

Desafia-me a provocar o majestoso 
Obriga-me a contar o infinito 
Empurra-me para o tão belo e monstruoso 
Desafio de em letras definir o indefinido   

Sujeita-me em tal arte a olhar para mim 
Oh! Insuportável prática de buscar compaixão  
E perceber que tal cálice não tem fim 
E por tal obra atormentar o flagelado coração  

Atira-me perante o meu ser  
E em tal busca tão flamejante só não espero perecer.  

J.G. Manzi.   

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