sábado, 26 de dezembro de 2020

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Poesia aprovada em revista que comemora o centenário de Clarice Linspector - Revista Ligeiro Guarani

 A Revista Cultural Ligeiro Guarani surge com o intuito de divulgar e incentivar a produção artístico-literária, visual e independente no Brasil. Suas publicações acontecem de forma trimestral, recebendo obras de qualquer pessoa que se proponha a enviar suas próprias produções. A temática da revista é livre, podendo em alguns volumes especiais focar em determinados temas. Criada e administrada por estudantes univesitários da região nordeste e vinculada a Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) - Piauí, esta é uma revista artística-cultural de livre acesso. 


Ressaltasse que, esta revista publica seus volumes e aceita contribuições de forma gratuita e não possui nenhum fim lucrativo.


Para mais informações: revistaligeiroguarani@gmail.com


Nesta edição a revista homenageia Clarice Lispector que nasceu em 10 de dezembro de 1920 e nos deixou, fisicamente, em 9 de dezembro de 1977. Considerada por muitos como um dos grandes nomes da literatura brasileira, a ucraniana naturalizada no Brasil foi autora de romances, contos e ensaios e tem sua obra marcada por cenas cotidianas que, apesar de parecem inicialmente simplórias, se respaldam de tramas psicológicas intensas e mais do que íntimas.


Levando em conta o seu legado, a Revisa Cultural Ligeiro Guarani não poderia deixar de prestar sua homenagem à escritora em seu centenário. Para isso, recorremos às produções de autores(as) que fazem, em maior ou menor grau, ligações entre as suas criações e as de Lispector. Frisamos, no entanto, que a cronologia que demarca a nossa homenagem, apesar de situada em uma data tão específica, se desprende do tempo presente para olhar intensamente para toda a herança que a autora nos deixou. Herança essa que, apesar de nossa singela tentativa, não cabe em uma edição apenas, tampouco se mede pela quantidade de produções desta publicação. Clarice Lispector, ou apenas "Clarice", como é intimamente chamada por muitos de seus leitores e leitoras, é ascendência, é herdade, patrimônio, é história, e por isso ainda vive. Sua ligação com esse mundo não se calcula, pois sua influência, assim como seu talento, são imensuráveis.


Acesse a edição: Revista Ligeiro Guarani


O Sarau Aberto também contribuiu com a poesia "O Mar" para a revista. Texto de autoria de João Gabriel F. Manzi 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Antologia METAMORFOSE

 Esta obra é uma compilação de poemas que exaltam as nossas mudanças diárias.

Estou participando dessa antologia. Caso alguém tenha interesse em adquirir a obra segue o link. Livro Físico

Está disponível gratuitamente em e book. E book





terça-feira, 17 de novembro de 2020

Turbilhão (Parte IV)

 A noite vem se debruçando na escuridão e eu o aguardo ansiosamente. Aguardo o sono me alcançar como a seca espera a chuva. 

Me sinto cansado e minha mente tem um turbilhão de pensamentos gritando estridentemente ao ponto de me ensurdecer no silencio. 

Sono chega a ser um privilégio tão longínquo que as vezes penso ser impossível alcançar tal feito. Minha dor precisa tanto deste feito. Estou cansado.  

Ao cair das estrelas me vejo apegado a uma amarga esperança de que o sono me abrace e assim meu corpo repouse na escuridão. 

Se for um sono eterno, que seja. Não tenho nenhuma vontade de despertar de um descanso inacabável. 

Só penso em descansar e repousar. Uma boa noite de sono seria uma graça tão desejada que tende a aparecer um milagre.

Aguardo o anjo do sono me agraciar com a dádiva. Enquanto isso me cubro na minha dor que esmaga meu peito e pesa minha cabeça. 

Deus, como estou cansado!

Manzi, J.G.
2018

Turbilhão (Parte III)

Minha solidão já é uma companheira antiga. Posso estar rodeado de gente, mas me sinto tão sozinho. 

O vazio que carrego no peito é tão profundo que às vezes sinto que nunca será preenchido por nada além do beijo da morte. 

A solidão é uma sanguessuga que consome minha vitalidade a cada dia, pois quando sempre se senti só, nada é demasiado importante. Pois todos me abandonaram e se já não o fizeram um dia farão. Estou fadado ao abandono e ao vazio. 

Por que alguém iria me suportar se nem eu mesmo consigo tal façanha? minha felicidade é uma esperança ingrata que me tortura. 

O vazio que a solidão traz só piora este meu estado. Me sinto preso em uma morada na qual não consigo encontrar a saída. 

Mas já não tenho medo da solidão, pois neste deserto o que me resta além de aguardar a morte?

Manzi, J.G
2017

Turbilhão (Parte II)

A cólera que repousa em meu coração me faz esquecer do gosto do amor, da gentileza e empatia para com o mundo. 
Já me esqueci do valor de um colo, um beijo ou carinho. Olho no espelho e vejo uma fúria inquieta. 
A raiva de mim mesmo é maior do que a desesperança que sinto pelos outros a minha volta. Não teria restado nada de bom?

No crepúsculo dos dias é ainda pior ou quando o sol não desperta através das nuvens negras que traz uma chuva fina que parece a tristeza dos céus. 
Sinto-me fadado a um nervosismo sem explicação. Uma irritação que me leva a exaustão mesmo se passar um dia inteiro na cama.
 
Ódio, ódio, ódio quanto sentimento enfurecido que nasce em mim a cada dia como ervas daninhas que consomem todas as minhas virtudes. 
Quero arrancar, bater e machucar, mas não há ninguém a quem pertença tal raiva, além de mim mesmo pelo fracasso de homem que sou. 
Sinto repulsa de mim e daqueles que me amam, pois como podem amar um ser tão repugnante?

Sou indigno de piedade e compaixão. Carrego a fúria, o ódio, a raiva e ansiedade que não vejo suas raízes. 
Possivelmente pertencem a minha essência impura e brotam a cada raiar do dia e ao cair da noite como uma doença que me diz que não irá embora. 

Manzi, J.G, 
2017

Turbilhão (Parte I)

A dor do meu coração não se cala, queima minha mente ao ponto de me fazer gritar. Um vazio de escuridão que minha alma exala. 
As trevas me abraçam e meu corpo arde como ácido que derrete a carne, mas tudo isso está em minha cabeça. Seria eu, um louco?

Qual o fruto da dor e sofrimento que me castiga e consome meus dias e noites, deixando apenas o resto de mim em lamento? 
De onde vem essas trevas que me consome e arranca a carne com tanta força, mas que se assenta profundamente. 

A cabeça dói, o peito aperta e a escuridão sufoca, mas a dor existe? Essas trevas existem? Ou imagino ou sonho? 
Decido sair dessa angústia e ansiedade, preciso me apegar ao real, a dor real, sentir algo de verdade que me puxe de novo para a sanidade, mesmo em um ato insano. 

Então me corto até sangrar por ódio de mim mesmo, por ser fraco. 
Corto-me também para sentir algo real, para que minha mente se volte a dor. 
Então me queimo sem pensar, apago os cigarros em meus braços, pernas e pés deixando cicatrizes, que nunca desaparecerão.
 
Corto-me e queimo para tentar ficar vivo, pois meu ódio e desilusão é tão profundo que um dia ainda dou cabo de minha vida, num só golpe. 
Mas não hoje. Esta noite apenas repousarei na minha dor, nas queimadores e cortes. Hoje me deterei ao meu martírio de sangue que vem de mim mesmo. 

Manzi, J.G. 
2017

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Mãe D’ouro (especial folclore)


Depois de chibatadas, nas noites

açoitado no tronco, 

então mais chibatadas 

madrugada adentro de açoites. 


Senhorzinho cruel 

A ganancia o consumiu a alma 

Mais tortura e castigo, 

Logo eu, que tanto fui fiel 


Cadê meu ouro! ele dizia

Mais castigo e a chibata estrala

Sofrimento e sangue do meu couro

Pés descalços, solidão, por tantas estradas


Cansado de buscar pelo ouro 

Depois de tanta rezas e trevas 

Pedi a minha Mae D’ouro

Medo de que me arranque mais couro 


Mãe D’ouro! Indica-me o caminho. 

Traga-me à luz o ouro,

Que está adentrado à terra 

Mãe D’ouro! Aponta-me o caminho.


Então, ela com seu dourado pujante

Coberta de formosura e beleza 

Com sua pele de fogo ardente

Cabelos negros e olhos flamejantes 


Ajoelhei-me diante de sua presença majestosa

Com a voz doce e um olhar de fúria 

Cada cicatriz em meu corpo ela mirava

Com as mãos de fogo a minha pele toca, tão amorosa


Como uma mãe que livra esse mau agouro

a escuridão do meu pesar se afasta 

e enfim uma esperança à minha sina

Mãe D´ouro, onde está  o ouro?


Como um raio que corta os céus

Ela desaparece e ressurge a várias distancias 

Corro atrás com um desespero que me engole

então vejo a terra retirar seus véus 


Ali! onde a mãe apontara repousa o ouro latejante 

Enfim minha demanda acabara

e os castigos me serão poupados em recompensa

Ali! repousa a ambição repulsante


Minha senhora me fez prometer

Leva o ouro que quiser,

Mas nunca revele seu local de repouso

Livra-te da cruel e perversividade daquele ambicioso!


Assim será feito para minha senhora 

Carregarei o ouro para saciar meu patrão

Poupar minha vida e minha lamentação

Graças a Mãe D´ouro, poupara minha vida por hora.


Manzi, J.G.


Art by João Gabriel Manzi©

Para saber mais: https://www.todamateria.com.br/mae-de-ouro/

 










quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Romãozinho (especial folclore)


 

Romãozinho, menino travesso!

Criatura mais tinhosa que o “cão”!

Não fazia nada de bem,

Somente judiação.

 

Filho de agricultores,

Nascido para as bandas de Goiás,

Não respeitava nem pai nem mãe,

E ainda maltratava as plantas e os animais.

 

Um dia a mãe, sem saber,

Selou seu próprio destino.

Preparou o almoço do marido

E confiou a entrega ao menino.

 

Romãozinho nesse dia

Fez sua pior travessura,

Abriu a marmita do pai

E comeu toda a mistura.

 

Para agravar a situação

Mentiu ao pai que a mãe o traía,

E que era esse tal amante

Que toda a mistura comia.

 

O pai ficou furioso

sua mulher, com um machado, golpeou.

Mas antes de morrer, sussurrando,

Ao filho ela praguejou:

 

Não vai para o céu nem para o inferno,

Não vai crescer, nem morrer,

Para saciar sua fome só língua de vaca irá comer,

Vagará por estas terras enquanto a humanidade existir.

 

Deste dia em diante

O menino virou assombração,

Vive pelas estradas 

Fazendo judiação.

 

Pai e mãe merecem respeito,

É bom aprender essa lição.

Não minta, não maltrate,

Tenha sempre um bom coração.

 

Dy’Paula



sábado, 1 de agosto de 2020

Matinta Perera (especial folclore)

A lua amostra.
No alto escuro céu.
Em cima do telhado, 
o assobio sem véu. 

Adentro da escuridão, 
mais assobio, e os passos pesados,
um bater de asas intenso,
que os galhos voam dispersados.

E os assobios atormentam, 
insistindo em quebrar o silêncio. 
Assobios que parecem trazer trevas.
Mas não pago de jumêncio.

O luar sombrio. 
Se agita no telhado. 
Com o terço na mão, mais assobio,
exausto me ponho a gritar

Volta amanhã Matinta.
Terá teu tabaco.
Volta amanhã Matinta.
Terá tua cachaça. 

O assobio cessa,
Com um bater de asas, 
o bicho some na floresta.
O medonho pássaro some de pressa.

Pássaro  agigantado,
de penas negras,
garras longas, bico curvado, 
pele enrugada e a cara de bruxa

Ao amanhecer.
Matinta Pereira aqui tua cachaça.
Cumpro o combinado. 
Meu lar quero livre de desgraça. 

Matinta Pereira aqui teu tabaco.
Vai-te embora velha senhora.
Deixa este homem já perturbado.
Matinta cumpro o combinado. 

E a velha encurvada,
segue caminhando pela mata, 
gritando a quem queira responder
Quem quer?Quem quer? Quem quer?

Ai de quem responder, que quer.
A moça tomará a sua sina.
E outra Matinta nasce ao anoitecer.
E os assobios assim continuarão 

Quem quer? Quem quer? Quem quer?

Manzi, J.G
.


Art By João Gabriel Manzi ©

Conheça mais sobre esta lenda:




quarta-feira, 29 de julho de 2020

Mapinguari (especial folclore)

No dia santo, quando saí a caça.
No meio do mata, com o sol ao alto.
Com um grito, surgiu de repente. 
Minha curiosidade, minha ruína.
Árvores caiam, a terra tremia, pedras partiam.

A cada passo um estrondo.
Então ele surge, ruge. 
Brota no meio das arvores.
Com um olho na testa, peludo e gigante. 

Na barriga sua boca.
Cheia de dentes, ainda com sangue.
Hálito podre, garras pontudas, afiadas.
Que estilhaça, esfarrapa. 

É ele, gigante, Mapinguari.
O que me restou, foi a prece.
Meu fim, então, chegara.
Minha vida ali, triste, se findara.

Balaços disparados.
Tanto barulho e fumaça, 
mas nenhum ferimento causado.
Não tinha jeito, ali minha desgraça.

Nem é homem, nem é bicho.
Vem correndo a mim.
Como uma fera esfomeada.
Gritando, rugindo, grunhindo.

Em dia santo não se caça. 
Em dia santo não se trabalha.
Minha teimosia, meu mal,
mas a fome aperta no seringal.

É ele, Mapinguari.
Caí em oração, orei pra todos os santos
Mapinguari.
Um milagre implorei em prantos.

Nunca mais trabalho em dia santo.
Poupa minha vida, Mapinguari.
Nunca mais trabalho em dia de descanso.
Clemência a este tolo, Mapinguari.

De joelhos por piedade.
Minhas preces atendidas. 
No meio da árvore, 
ali o bicho-preguiça.

Mapinguari com mais um grito.
Fugiu pra outros lados, 
sumiu no meio da mata. 
Não trabalho mais em dia santo, 
Foi meu santo, o bicho-preguiça. 

Manzi, J.G.

Art by Joe Santos ©

Conheça mais sobre essa lenda: 









sexta-feira, 12 de junho de 2020

Café de todas as manhãs

Deveria ser eu
a controlar minha mente,
suportar meus sentimentos,
sentir minha dor,
salgar a boca com minhas lágrimas.
Mas fracassada me sinto
ao perceber que um dia sem ela,
aquela que a todo meu ser controla
e suporta,
me perco no abismo
que criei dentro de mim.
Não pertenço a lugar
ou pessoa alguma,
nem a mim mesma.
Mas você me tem
de um jeito que não consigo
negar.
A felicidade contemporânea
é uma pílula
no café da manhã.

Ana Carolina Martins, 

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Mar de cruz

Viajo em passos perdidos.
Esperando um raio de luz.
As lágrimas em um rosto escondido.
Vendo-me em um mar de cruz.

Vejo rotas e fugas, sem rumos,
A esperança do coração se esvai.
Guiado pelos meus surtos,
Só mais um corpo que cai.

Toca as notas de um pesar,
Com um coração cheio de ânsia.
Escrevo pra não desabar, 
Enquanto velejo pela desesperança. 

E assim se passa mais dia
E o tempo hoje, já não é mais o mesmo.
No reino da covardia,
Todos seguimos a esmo. 

Manzi, J.G.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Mar da desesperança

Você ouviu este silencio?
Parece ter cheiro de nada.
De água densa, parada,
Nada parece ali viver.


Você viu este invisível?
Parece ter gosto de nada.
Cor de sangue, palpável,
Nada parece temer.


Eu mesmo nada ouvi,
O que ouvi, calei.
Ceguei-me diante da vida,
Que sempre senti falta em mim.


Em meio às águas revoltas,
Com medo de perecer,
Testemunhei os fracos caídos,
Sentindo-me fraco por não desistir.


Os navios se emparelham,
Empurram as águas do mar.
Amontoando os cadáveres,
Que teimam em se amontoar.


A esperança se vai,
Uma a uma ela se esvai.
Fazendo sumir o vazio,
Que de meu peito nunca sai.


Afogo-me no mar da desesperança,
Na espera de não mais viver,
E esperançoso, desespero-me,
Pois a desesperança não me deixa crer.


Dy’Paula
05/06/2020

terça-feira, 19 de maio de 2020

Trajetória

Quando olho pra trás, vejo tanta coisa que podia ter feito diferente.
Mas quando olho pra frente, esqueço do passado e da memória fugaz.

Será que teria conhecido as pessoas que conheço hoje?
Será que eu veria o mundo da forma como vejo agora?
Será que eu seria eu?

Não mudaria nenhuma decisão tomada se o resultado fosse um futuro sem mim.
As feridas do passado não doem mais, agora são cicatrizes, parte de mim, da minha história.

E é isso o que nos torna singular.
Nossa trajetória, nossa (des)construção.
O que fui outrora já não sou mais
E o que sou agora me orgulha demais.

Ana Carolina Andrade

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Aguar as plantas



Quero escrever um poema
E já não sei como fazê-lo.
Tem 18 anos que aquela estrela
Brilhou no céu de novembro.


Pra um verso escrever
Esforço enorme, enxaqueca.
Pior é no noticiário ver
A face do Capeta.


Cigarros? Vê 6 maços.
Cerveja? Põe na mesa.
Maconha? Me enrola um charro.


Na varanda, a aguar as nossas plantas
A companheira de treze vidas
Me sorri triste: "Mas é um caralho, né meu filho?"


Felipe Martins

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Sonho meu


Me pego sonhando
Um sonho quase tangível,
Um sonho tão perceptível
De tantas maneiras inconfundível
O mundo se silencia
E posso sentir a sintonia Afinidades de sabores Cores, e todos odores
Campos verdes e céu azul
Brisa leve e dançante
Cheiro de terra molhada
Sensações que me deixam extasiada
Ouço vozes radiantes,
Crianças e adultos empolgantes Brincam, dançam, dão risadas Estou maravilhada, estou em casa
Percebo então ali o meu lugar Eu, você, o céu e nosso lar Desperto com a certeza Onde mais eu poderia estar?

Ana Motta

domingo, 3 de maio de 2020

solidão e isolamento

E nesses dias de solidão e isolamento
A vida que passava tão rápido
Hoje segue em tormento
Dizem que o tempo cura tudo
Mas o que faz o tempo nesse momento?
Tentar se distrair não adianta mais
Todos os dias parecem iguais
O mesmo filme em todos canais
Sigo tentando viver o mesmo dia
Várias e várias vezes
Tudo se repete, sem fundamento
Volto a me perguntar
O que faz o tempo nesse momento?

Ana Motta

O amor


Se posso te dar algo para pensar é sobre o amor, doce, medonho, gostoso, fantástico e horroroso amor.
Nos constrói e destrói, nos anima e nos derruba.
Quem ama se torna essa contradição, essa loucura ambulante.
Prazer, louco nato.

Ana Carolina

minhas linhas.

essa é pra todas as poesias
que eu não consegui terminar
porque carregavam meu nome,
meus olhos,

minhas linhas.
pra todas aquelas
que são meu auto retrato.
eu na forma de oceano,
eu como o fogo,
eu infinitas vezes despida,
molhada,
gelada,
fervendo.
pra todas as vezes que eu me pintei
pra mim e depois me desbotei.
pra todas as vezes que eu subjuguei
meu próprio sorriso,
o meu próprio amor,
as minhas próprias curvas,
pra todas as minhas esquinas que eu ignorei.
essa é pras minhas tintas,
pras minhas canetas,
pros meus papéis,
meus pincéis,
pra todas as artes que me descrevem,
todas as que eu fiz enquanto minha musa era meu reflexo no espelho.
pra todas as músicas que eu cantei pra mim mesma,
todas as lágrimas que eu enxuguei,
todos os choros que eu engoli,
pra todos os rios que eu derramei em cima da minha roupa de cama por me torturar me dizendo que eu nunca fui boa o suficiente.
essa vai pra mim
e pra absolutamente tudo que eu sou,
pra tudo o que eu faço.
pra tudo o que sei,
pra todas as vezes que eu me mantive de pé e discursei sobre todos os aprendizados que eu obtive enquanto escutava,
porque eu sabia que eu não conhecia muito,
eu ainda sei que eu conheço muitíssimo pouco.
essa é pra mim.
pra todas as minhas 400 personalidades.
essa poesia é a introdução e a conclusão.
eu mesma sou meu começo e meu fim.

essa é pra todas as poesias sobre mim que eu não terminei, porque eu nunca soube como me descrever.Mas
eu ainda não sei.

Izabela Sales

Dor fragmentada


Tantas coisas à pensar tantas coisas à fazer tantas coisas à falar tantas coisas para entender
Vivo em quarentena
em quarentena a todo tempo
a doença se espalhando
se espalhando feito vento e o pensamento?
Ahh mais que tormento!

Não sei o que dizer,
só preciso entender!
Os sentimentos, o emocional, o isolamento social;
Tudo pára, tudo muda, nada é mais igual; turbilhões de pensamentos,
isso tudo é surreal? Não! Na verdade, é bem real!

Em minha solidão pensamentos vêm e vão
Abraços, aperto de mão, pera aí, não posso não!
E aí, logo vem a sensação;
 a dor deste momento fragmenta o coração!

Joyce Cristina 

Conscientemente Inconsciente



Não são as palavras que contam uma história.
Sim a ausência delas.
O sentir, diário e mudo.
Não se vê, não se ouve, não se fala.
Ou melhor...
Se vê, ao fechar os olhos, ou ao abri-los diante do espelho.
Se ouve, em cada melodia, letra, frase ou poesia que fale de amor.
Fala-se, timidamente, aqui e ali, a lamentar-se com os companheiros.
Ah, que história!
Os dedos tremem buscando palavras pra contar. Mas não dão conta, afinal, não são as palavras que contam uma história. Sim a ausência delas!
A norma, a moral,  o "ideal"
O medo, as grades, as alianças
Sufocam as palavras, os corpos...
Mas não sabem que não são as palavras que contam uma história, sim a ausência delas?
Quanto mais silencio, mais pensamento, mais sonhos, mais sentimento.
Mais história!
Um universo lúdico, sensorial.
Sentido único: dentro.
Templo dos sonhos e das lembranças,
Território das saudades, vozes, cheiros e sons...
Onde a liberdade da mente sobrepõe aos corpos, onde flashes não alcançam nossa verdadeira face.
Onde sempre nos teremos e amantes seremos.

Ana Motta

Nós


O meu corpo não é seu.
Sempre foi tão fácil dizer e entender.
Epifania súbita ao pensar
Que seu corpo também não é meu.

Meu amor é todo seu
E se quer consigo imaginar
O que seria de mim
Sem uma vida ao lado teu.

Acompanhar tua trajetória
Colher frutos semeados contigo.
Não há dúvidas, meu amor
A vida é melhor ao seu lado,
Meu melhor amigo.

A todos aqueles que buscam
Ao amor encontrar
Não há mistérios ou segredos
O caminho é ouvir e falar.

 Ana Carolina de Andrade Martins

O que tenho a dizer



O que dizer quando não se há nada a dizer.
Nada do que eu diga terá sentido para você.
O que fazer quando não se há nada a fazer.
Nada do que eu faça mudará o que há entre mim e você.

Façamos nada,
Para que não tenhamos nada a dizer.
Pois se dissermos o que fazer
Faremos aquilo que não queremos fazer.

Vamos desvendar o mistério da vida
Par que a vida se revele sem mistério.
Vamos viver como se houvesse prazer
E prazeroso será lhe conhecer.

Não me diga o que não quer me dizer.
Melhor seria simplesmente viver.
Sem mistério, sem ter o que fazer.
Com prazer entre mim e você.

Conheci tuas entranhas,
Ainda assim me estranhas.
Conheci tuas virtudes,
Ainda assim me iludes.

Eu sem você sou nada,
E nem tenho nada a dizer.
Você sem mim me mata,
Só quero contigo viver.

Dy’Paula

Isolamento


Só, com meu pensamento,
Sobrevivendo a este tormento,
Esperando que seja só um momento,
Vivo o meu isolamento.

Já não sinto fome nem dor.
Não mais diferencio o sabor.
Não há cheiro nem odor.
Da vida sou espectador.

Ai de nós, meros mortais.
Os mais frágeis dos animais.
Decerto já não nos reconhecemos mais.
Jamais seremos normais.

Vamos sem saber para onde.
Vamos sem sair do lugar.
Impera a virtualidade,
E como gado que sou tenho que me virtualizar.

Canto ela na janela.
Vivo a live ao vivo no meu sofá.
Na janela bato panela.
E a panela cada vez mais vazia está.

Esperando passar este tormento,
Só neste momento,
Vivo com um só pensamento,
Sobreviver ao meu isolamento.

Dy’Paula

domingo, 22 de março de 2020

O vírus



E o tempo passando lento.
Lá fora sem movimento.
Aqui dentro só, com meu tormento.
Só me resta o isolamento.

A distância é o remédio,
Seu efeito colateral é o tédio.
A vida passa pela janela do prédio,
Entre janelas a arte por intermédio.

Luto contra algo que não vejo.
Sem conhecer meu inimigo, bravejo.
Para não errar em minhas decisões, corvejo.
Saúde e paz é só o que eu desejo.

De repente tudo mudou,
O barulho se silenciou,
A ganância se esganou
E a solidariedade aflorou.

Que aprendamos esta lição,
Não somos mais que imperfeição,
Construímos nossa destruição,
É chegada a hora de nossa remição.

Dy’ Paula

quarta-feira, 18 de março de 2020

Tristeza

Já fui insano por ti cortejar.
Cortejada, quantas vezes me ignoraste.
Mas de ti fui atrás cegamente.
Como um inseto que se atira ao fogo.

Abraçaste-me como se já não fosse possível soltar.
Como se agora foste parte de mim eternamente.

Cortejei-te, mas conheci teu gosto amargo.
Conheci teu peso por onde caminhei.
Tentaste assombrar meus sonhos e desejos.

Mas agora não a quero mais.
Não suporto teu gosto, fedor, peso e aperto no peito.
Tristeza, portanto chegaste a hora de partir, pois já não somos um. 

Tristeza, podes me deixar no porto e segues pelo oceano. 
Volte, mas brevemente, apenas para me lembrar de que tenho um coração e que ele sangra. 

Tristeza, podes me deixar que não a evocarei. Apenas nos momentos em que outro alguém me ferir pensarei em ti, mas brevemente, apenas para me lembrar de que tenho um coração e que ele chora.

Tristeza. Podes me deixar agora.

Manzi, J.G.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A arte de sofrer


A dor é presente.
Mas sua presença é finita.
Sua finitude depende de quem a sente.
Sofrimento existe, mas não é eterno.

Há a imposição  da felicidade.
A felicidade se tornou uma tortura.
Há a obrigação de ser feliz.
Imposta nas fotos, nas fugas e nas aparências.

A que ponto chegou a ditadura da felicidade?
Ao ponto de ser proibido sentir dor ou sofrimento?
Porém ambos existem, querendo ou não.
Mas se tornou regra sua ocultação.

A felicidade farsante é a nova imposição.
Assim como a negligência ao sofrimento e a dor.
Nascendo o obstáculo de curar as feridas.
É mais justo ter suas feridas abertas?

A dor e o sofrimento existem.
Em tempos de fotos e registros onde todos são felizes.
Sofrer se tornou a maior das fraquezas.
Não seria mais justo o tornar cicatrizes?

A dor e o sofrimento são finitos,
Mas encobri-los em prazeres momentâneos,
Levarão a finitude de sua vida.
A dor o consumirá até seus últimos caminhos.

Julgar e punir quem sofre se tornou regra.
Uma imbecilidade disfarçada de hipocrisia e ignorância.
Pois se é humano, então sofrerá, algum dia sofrerá.
O grande dilema é o que fazer com a dor.

Esconde-la em vicios, prazeres e hipocrisia.
Tornaram-se o caminho comum.
Assim a finitude da dor e sofrimento se esvai.
Dando lugar a uma eterna ferida.

Vergonha não é sofrer ou sentir dor.
Mas sim deixar que suas feridas não se curem.
Não deixar com que elas se tornem cicatrizes
Vergonha é optar pela felicidade farsante.

Manzi, J.G.

Encontre no Sarau Aberto